O Baile da Revelação. Uma noite inesquecível em Sinhá Moça (1986).
Por Dircélio Timóteo

Em um dos episódios mais marcantes da novela Sinhá Moça, exibida em 1986 pela TV Globo, o luxuoso baile da aristocracia cafeeira se torna palco de uma virada histórica, cheia de símbolos e coragem.
É nessa noite que Ana do Véu, interpretada por Patrícia Pillar, em sua estreia na televisão, finalmente revela seu rosto. Após anos escondida sob o véu que alimentava lendas e especulações, a jovem ousa encarar a sociedade com a própria face. Seu gesto representa não só libertação pessoal, mas também um desafio às convenções impostas às mulheres daquela época.
Mas quem rouba a cena com ainda mais impacto é Sinhá Moça, personagem de Lucélia Santos, que adentra o salão com sua escravizada Adelaide, agora vestida como uma autêntica sinhá, com roupas que haviam pertencido à própria Sinhá Moça. A ousadia de levá-la ao baile, em pé de igualdade com as demais damas da elite, é um ato de rebeldia sem precedentes.
Adelaide, uma jovem mestiça, havia sido retirada da senzala às pressas por Sinhá Moça, ao perceber que ela corria risco de sofrer abusos pelos ajudantes do feitor. Transformada em dama de companhia, Adelaide ressurge naquela noite como um símbolo de dignidade, justiça e reparação.
O contraste entre os sorrisos ensaiados da elite escravocrata e a firmeza do olhar de Adelaide, erguida em seu vestido de sinhá, escancara as contradições e violências do Brasil imperial. Uma noite de máscaras caindo, de estruturas ruindo, e de mulheres ousando mudar o curso da história.
Sinhá Moça (1986) é um marco da teledramaturgia brasileira, não apenas por sua produção primorosa, mas por sua poderosa crítica social e sua defesa corajosa da liberdade e da igualdade.